quarta-feira, 14 de julho de 2010

Braços Fortes, Mãos Amigas



(As cheias de Alagoas e Pernambuco e a atuação do 71º BI MTZ e outros órgãos de segurança)

Por Valério Caetano

Não sentiremos saudades de junho. A seleção nacional, símbolo maior do nosso sentimento de brasilidade, tropeçou e mais uma vez voltou para casa sem o tão sonhado título. Enquanto patinávamos na copa a fúria das águas deixou um rastro de destruição sem precedentes nos estados de Alagoas e Pernambuco, varrendo cidades inteiras do mapa e desabrigando milhares de pessoas.Foi este o cenário encontrado pelas tropas do 71º BI Mtz que participaram, e ainda participam do multirão social formado pela defesa civil, polícia, bombeiros e voluntários, para fazer frente ao maior desastre natural já ocorrido nestes dois estados.
As fortes chuvas se intensificaram em 18 de junho de 2010, e neste mesmo dia o Batalhão Duarte Coelho recebeu pedidos de ajuda de várias cidades do agreste meridional, colocando imediatamente a disposição das cidades atingidas todo seu aparato operacional e logístico. Aqui em Garanhuns, o Bairro Liberdade foi o mais afetado, e por ordem do Ten. Cel. Evaldo Ferreira Baptista foram deslocados para lá nos dias 18 e 19 de junho cerca de cinco viaturas e cem militares do 71º que ajudaram aos demais órgãos de segurança e de defesa civil da cidade, na remoção de famílias que estavam em áreas de risco. Os desabrigados foram levados para o Conjunto residencial José Ferreira Filho e seus pertences transportados por viaturas do Exército Brasileiro. O soldado Eudes José Lopes de Melo participou dos dois dias de trabalho no Bairro Liberdade. “Foram dois dias exaustivos onde o cansaço foi superado por um sentimento maior: ajudar pessoas de minha cidade que se encontravam em situação difícil”, disse Eudes.

A GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

Uma das missões constitucionais do Exército é a Garantia da Lei e da ordem. A Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999, normatiza o emprego das Forças armadas, e em seu Artigo 15º Parágrafo 2º diz:
§ 2o “A atuação das Forças Armadas, na garantia da lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, relacionados no art. 144 da Constituição Federal.”
O Ten Cel Evaldo avalia de forma positiva a ação realizada no Bairro da Liberdade. Para ele, foi determinante o bom entrosamento do Exército com os órgãos de defesa civil e segurança pública da cidade. “Durante os dois dias em que nossa unidade atuou aqui em Garanhuns na remoção de famílias das áreas de risco, ajudou muito a boa comunicação que tive com os demais órgãos envolvidos no apoio. Ficamos em contato direto e assim conseguimos otimizar o atendimento dando mais capilaridade ao socorro. Penso que apesar de ser uma experiência triste,ela nos trouxe lições e ensinamentos. É preciso que nos antecipemos a calamidades como esta. Precisamos aprimorar as ações da defesa civil da cidade dotando-a de um aparato técnico-profissional para que este importante instrumento possa fazer um trabalho de prevenção com um monitoramento constante de áreas de risco. Isso sem dúvidas minimizará os efeitos de enxurradas,” afirmou o Comandante do 71º BI Mtz.

A AÇÃO DO 71º BI MTZ POR OCASIÃO DA ENCHENTE EM ALAGOAS

Dia 20 de junho de 2010, desta vez cumprindo determinação do escalão superior o 71º BI Mtz foi novamente acionado face à forte enchente que se abateu sobre o estado alagoano. Foram deslocados para a cidade de União dos Palmares cerca de 120 militares que lá atuaram no isolamento de áreas de risco, fizeram operações de salvamento com botes e proporcionaram segurança para que a defesa civil tivesse tranqüilidade e condições para organizar a doação de alimentos. A ação continua. Até o fechamento deste artigo, 80 homens do Exército representados pelo 71º BI Mtz permaneciam nas áreas atingidas, sobretudo nas cidades de Santana do Mundaú, São José da Laje e União dos Palmares.
A Psicóloga alagoana, Janine Tenório de Souza (CRP 2015/15ª) presenciou muitas das ações do 71º, e falou à Gazeta de Garanhuns. Ela trabalha no CAPS alagoano (centro de atenção psico-social). “Quando soube tragédia estava em Maceió e pela minha condição de psicóloga do CAPS, desloquei-me no mesmo dia para a região de União dos Palmares e São José da Laje. O cenário era de guerra. Vi a cidade praticamente destruída, mas me aliviou ver a presença do Exército. Não somente eles, mas todos os demais órgãos como bombeiros, defesa civil, polícia e voluntários, foram exemplos de força quando a fragilidade e o desespero eram as palavras de ordem entre os desabrigados. Foi uma tragédia que não escolheu classe social. A Prefeita de Branquinha fugiu da água se abrigando em cima da laje de sua casa,” revelou Janine Tenório.

UMA PONTE PARA A ESPERANÇA

Como parte das ações desencadeadas pelo Comando do Exército, o 3º Batalhão de Engenharia de Combate deslocou-se da cidade de Cachoeira do Sul-RS. Setenta militares especializados chegaram à Garanhuns, e daqui seguiram para Altinho onde a ponte sobre o Rio Una foi totalmente destruída. O Exército vai montar uma ponte metálica de 30 metros que substituirá provisoriamente a ponte original.O trabalho começou dia 07 de julho e leva cinco dias para ficar pronto. Isso, certamente trará alívio para os moradores, sinalizando uma normalização no fluxo de pessoas e veículos daquela cidade.

A VITÓRIA DA SOLIDARIEDADE

O que ficou evidente nestes tristes dias de junho foi a capacidade de solidariedade do povo brasileiro. Doações afluíram de todo país e estão servindo para amenizar um pouco o sofrimento daqueles que perderam tudo menos a esperança. A hora é de recomeçar. Cidades precisarão ser reconstruídas, e a dignidade de um lar, devolvida a quem perdeu a casa. Nesta ação de ajuda aos irmãos nordestinos, mas que um preceito constitucional, o que motivou instituições como o Exército, Bombeiros, Polícia e Defesa Civil, foi a grande capacidade de altruísmo do nosso povo. O sentimento de tristeza estava na face de quem ajudava e de quem era ajudado. O Brasil não venceu a copa, mas em Alagoas e Pernambuco, distantes milhares de quilômetros da África, as dificuldades estão sendo vencidas com a solidariedade e o esforço de homens e mulheres de braços fortes e mãos amigas.

Valério Caetano é formado em História pela Universidade de Pernambuco e 1º Sgt do Exército Brasileiro (valeriocaetano@hotmail.com)

Foto: Cidade de São José da Lage/AL.

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